Uma farsa sinistra e mortal, e não umas eleições
Uma farsa sinistra e mortal, e não umas eleições
Op-Ed / Africa 2 minutes

Uma farsa sinistra e mortal, e não umas eleições

Pedia-se aos zimbabweanos que voltassem às urnas para escolher o seu próximo Presidente, mas não era tanto uma eleição como uma farsa sinistra e mortal. A linha dura no partido ZANU-Frente Patriótica, do Presidente Robert Mugabe, usou o seu controlo absolute das instituições estatais e das forças de segurança para perpretar uma vaga de violência e intimidação contra partidários do candidato do Movimento para a Mudança Democrática (MDC, na oposição), Morgan Tsvangirai. O grande receio era o de que, independentemente do verdadeiro resultado, Mugabe se proclamaria de qualquer forma vencedor.

Isto estaria de acordo com o comportamento anterior de Mugabe. Na primeira volta das legislativas e das presidenciais, em 29 de Março, o MDC obteve uma maioria clara no Parlamento. Mas o anúncio dos resultados presidenciais foi atrasado durante cinco semanas, enquanto os partidários de Mugabe preparavam a sua estratégia de sobrevivência, incluindo a manipulação dos resultados, para garantir que haveria uma segunda volta entre Tsvangirai, o mais votado, e Mugabe. O regime subverteu assim a democracia.

Até mesmo o Presidente sul-africano, Thabo Mbeki, negociador regional que pouca pressão estava a fazer para acabar com o pesadelo, reconhece agora que Mugabe já não está em posição de ganhar eleições legítimas.

A comunidade internacional, e especialmente os actors regionais que observam o acto, devem resistir à conspiração de Mugabe, afirmando claramente que ele não conseguirá qualquer legitimidade com uma vitória autoproclamada e fraudulenta. Não se deve permitir a Mugabe utilizar o seu exercício cínico para perpetuar o poder ou insistir em que poderá entregar a presidência a um sucessor escolhido, se decider deixar o lugar na sequência de negociações.

Imaginando que a comunidade internacional não teria a determinação necessária para fazer abortar este esquema, o MDC considerou o boicote e o mundo deve apoiá-lo.

A maior parte dos peritos dentro e fora do país concorda que a melhor opção seria um governo de unidade nacional sem Mugabe. Um resultado desejável seria a negociação de um governo que tivesse Tsvangirai como primeiro-ministro e um dirigente moderado da ZANUPF numa posição secundária como Presidente. Estão em curso discussões entre quadros do MDC e moderados da ZANU-PF. O cerne da questão é o futuro papel de Mugabe num esquema de transição. Tsvangirai rejeita qualquer papel para o actual Presidente, mas está aberto a partilhar o poder com alguns elementos do seu partido, o que é apoiado por dirigentes regionais como os do Botswana, Zâmbia e Tanzânia. Mbeki, porém, pensa que Mugabe deveria ficar como chefe de Estado protocolar até que se organizasse a sua sucessão.

O Movimento para a Mudança Democrática aproximou-se de altos comandos militares para os atrair para um fim negociado da crise e uma restauração do processo democrático. Será que a linha dura e os serviços de segurança concordam? A actual violência não o sugere.

Os principais líderes da oposição têm sido repetidamente detidos, num esforço para que não houvesse campanha. Os seus partidários têm sido alvo de violência, obrigando-os a fugir de casa. Centenas de partidários do MDC foram sujeitos a tortura e ataques violentos. Milhares de pessoas têm sido deslocadas internamente e muitas outras deixado o país devido à violência. Além disso, alguns chefes dos serviços de segurança têm dito em público que nunca reconheceriam Tsvangirai como chefe de Estado. Indicaram que mesmo que o líder da oposição obtivesse uma vitória eleitoral pegariam em armas para manterem o poder. Estes avisos seguiram-se a afirmações de Mugabe de que não aceitaria qualquer resultado eleitoral que não fosse a vitória.

A violência tem vindo a alastrar no Zimbabwe, onde a anarquia e a guerra civil espreitam, com o risco de uma divisão nas forças de segurança. Isto teria graves consequências não só para o Zimbabwe, mas também para o resto da África austral; e não só. Mas tal não é inevitável. Mesmo nesta fase avançada, há advogados corajosos empenhados na paz e na reconciliação, a trabalhar para uma solução negociada, tanto dentro do país como na região. Merecem apoio internacional.

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