Briefing / Asia 3 minutes

Timor-Leste: Oecusse e a fronteira indonésia

Visão geral

A Indonésia e Timor-Leste têm feito muito para normalizar relações, dez anos depois do fim da ocupação indonésia da antiga província, mas a boa vontade entre Jacarta e Díli não é ainda acompanhada por uma cooperação plena na fronteira. Os custos são mais pesados em Oecusse,  enclave isolado de Timor-Leste dentro do Timor Oriental indonésio. Os negociadores não têm, até aqui, conseguido chegar a acordo em relação a dois segmentos da fronteira de Oecusse, deixando em aberto o risco de que conflitos menores locais possam vir a ser politizados e venham sofrer uma escalada. Sem uma demarcação final, passos para melhorar a gestão da porosa fronteira têm sido paralisados. Iniciativas com vista a promover trocas e diminuir o isolamento do enclave ainda estão por implementar. À medida que os laços entre as duas nações crescem, esta questão inacabada devia ser uma prioridade. Deixá-la por resolver poderá apenas promover o crime, a corrupção e a possibilidade de conflito.

A ameaça de segurança a Oecusse e aos seus 67 mil habitantes foi drasticamente reduzida desde a independência. Enquanto os segmentos de fronteira por resolver continuam a ser catalisadores de tensões ocasionais, não ocorreu violência nenhuma nos últimos anos. A resolução da questão fronteiriça requer respostas nacionais e locais. Os governos devem trabalhar com urgência renovada para resolver os restantes segmentos em disputa. Seja qual for a fronteira acordada ela não vai satisfazer a todos. Para aligeirar este descontentamento, acordos locais para actividades transfronteiriças devem ser fomentados. Sem tal flexibilidade, disputas locais com um longo passado irão espalhar-se e poderão resultar num conflito activo.

Para além das ameaças de segurança, os dois países enfrentam uma gama de desafios em termos de gestão da fronteira no que toca ao movimento de pessoas e de bens. Apesar de o enclave se ter mantido politicamente separado por várias centenas de anos, os laços entre famílias divididas pela fronteira mantêm-se fortes. Atravessam-na regularmente para casamentos e funerais. Algumas até cultivam terras no outro país. Isolados do resto de Timor-Leste, os habitantes dependem de bens baratos da Indonésia.

Acordos informais têm servido para facilitar o movimento de bens e de pessoas à falta de um sistema sustentável que promova, em vez de criminalizar, o tráfego local, mas estes ficam normalmente em suspenso quando as tensões fronteiriças crescem, aumentando a vulnerabilidade de Oecusse. Ambos os países estão a estabelecer agências civis de gestão fronteiriça que podem ajudar a acomodar interesses locais a médio prazo, mas faltam meses, senão anos, para se tornarem realidade. Questões por resolver em relação à responsabilização pela violência em torno do referendo de 1999 e o subsequente deslocamento em larga escala através da fronteira colocam desafios que são mais de teor político do que de segurança. A sua resolução é um pré-requisito para a estabilidade a longo prazo do enclave.

Enquanto a viabilidade de Oecusse nos anos após a independência foi em tempos questionada – em particular por observadores estrangeiros – tais preocupações subvalorizaram o forte sentido de identidade timorense no enclave e sobrestimaram a ameaça de antigas milícias da era indonésia do outro lado da fronteira. O investimento do governo central tem aumentado, enviando uma mensagem do compromisso de Díli para com o enclave. Apesar de bem-vindos pelos habitantes locais, tais esforços começam de um ponto de partida baixo. As infra-estruturas continuam pobres, o acesso à informação limitado e a capacidade de fornecimento de serviços governamentais fraca. A descentralização por todo o país era para ter entregue a este distrito a autonomia para determinar alguns dos seus assuntos transfronteiriços, mas o processo foi paralisado a nível nacional. A liderança de Timor-Leste deve ponderar a separação do desenvolvimento regional de Oecusse do processo mais amplo e procurar formas de fornecer meios e fundos para a promoção directa da cooperação transfronteiriça.

Enquanto a Indonésia e Timor-Leste trabalham em ser bons vizinhos, devem focar-se em acções concretas que melhorem a vida das pessoas e diminuam o risco de conflito de ambos os lados da fronteira. Enquanto a doutrina militar indonésia quer dizer que um decréscimo significativo nas forças de segurança na fronteira é pouco provável a curto prazo, a desmilitarização da fronteira deve manter-se na agenda como um objectivo de longo prazo que viria realmente a reflectir relações normais. Passos a tomar de imediato incluem:

  • a finalização da demarcação da fronteira como prioridade;
  • a formalização dos arranjos para uma comunicação eficaz entre governo e forças de segurança de ambos os lados da fronteira e a todos os níveis, de forma a criar canais para rapidamente contrariar incidentes no futuro;
  • o aumento da cooperação entre as forças militares e policiais de ambos os países, incluindo em termos de treino e de intercâmbio de adidos;
  • a introdução do há muito discutido sistema de passe fronteiriço para cidadãos de ambos os países e a implementação de uma iniciativa para mercados conjuntos de fronteira que facilitariam quer as trocas comerciais quer as sociais; e
  • a melhoria do treino, do equipamento e das condições da Unidade de Patrulhamento das Fronteiras (UPF) timorense.

Overview

Indonesia and Timor-Leste have done much to normalise relations ten years after the end to Indonesian rule in the former province, but the goodwill between capitals is not yet matched by full cooperation on the border. The costs are greatest in Oecusse, Timor-Leste’s isolated enclave inside Indonesian West Timor. Negotiators have so far failed to agree on two segments of Oecusse’s border, leaving open the risk that minor local disputes could be politicised and escalate into larger conflicts. Without a final demarcation, steps to improve management of the porous border have stalled. Initiatives that would promote exchanges and lessen the enclave’s isolation remain unimplemented. As the bonds between the two nations grow, they should prioritise this unfinished business. Leaving it unresolved can only promote crime, corruption and the possibility of conflict.

The security threat to Oecusse and its 67,000 inhabitants has sharply decreased since independence. While the unresolved border segments remain a catalyst for occasional tensions, no violence has taken place in recent years. Settlement of the border issue requires both national and local responses. The governments must work with renewed urgency to resolve the remaining disputed segments. Whatever border is agreed will not satisfy everyone. To alleviate this discontent, local arrangements for cross-border activities should be promoted. Without such flexibility, long-standing local disputes will fester and could escalate into active conflict.

Beyond security threats, the two countries face a range of border management challenges over the movement of people and goods. Though the enclave has remained politically distinct for several hundred years, links remain strong between families divided by the border. They cross regularly for marriages and funerals. Some even farm land in the other country. Isolated from the rest of Timor-Leste, residents depend on cheap goods from Indonesia.

Informal arrangements have served to facilitate movement of goods and people in the absence of a sustainable system that would promote rather than criminalise local traffic, but these are often put on hold when border tensions rise, increasing Oecusse’s vulnerability. Both countries are establishing civilian border management agencies that may help accommodate local interests in the medium term, but they are still months, if not years away. Unresolved issues regarding accountability for the violence around the 1999 referendum and the subsequent large-scale displacement across the border pose challenges that are more political than security-oriented. Their resolution is a prerequisite for the enclave’s long-term stability.

While Oecusse’s viability in the years following independence was once questioned – chiefly by foreign observers – such concerns underestimated the strong sense of Timorese identity in the enclave and overestimated the threat from former Indonesia-era militia on the other side of the border. Investment by the central government has increased, sending a message of Dili’s commitment to the enclave. While welcomed by residents, such efforts start from a low base. Infrastructure remains poor, access to information limited and the ability to deliver government services low. Nationwide decentralisation was to have given this district the autonomy to determine some of its own cross-border affairs, but the process has stalled at national level. Timor-Leste’s leadership should consider uncoupling Oecusse’s regional development from the broader process and look for ways to provide means and funds to promote direct cross-border cooperation.

As Indonesia and Timor-Leste work on being good neigh­bours, they should focus on concrete actions that improve life for the people and lessen the risk of conflict on both sides of the border. While Indonesian doctrine means a significant decrease in security forces on the border is unlikely in the near term, demilitarisation of the frontier should remain on the agenda as a long-term goal that would truly reflect normal relations. Immediate steps that should be taken include:

  • finalising demarcation of the border as a matter of priority;
  • formalising arrangements for efficient communications between government and security forces on both sides of the border and at all levels, so as to create avenues for quick de-escalation of future incidents;
  • increasing cooperation between the two countries’ military and police, including training and exchange of attachés;
  • introducing the long-discussed border pass system for citizens of both countries and implementing the initiative for joint border markets that would facilitate both commercial and social exchange; and
  • improving the training, equipment, and facilities of Timor-Leste’s border patrol unit.

Dili/Brussels, 20 May 2010

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