Briefing / Asia 4 minutes

Timor-Leste: É tempo de a ONU recuar

Resumo

O contingente policial da Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT)     deve ser reduzido de forma clara para refletir as melhorias de segurança desde a crise de 2006 e para apoiar a estabilidade futura. Desde 2008, os timorenses têm-se mostrado determinados em lidar com ameaças internas sem o apoio da terceira maior missão policial das Nações Unidas (ONU). As forças locais têm respondido ao seu próprio comando em vez de responderem à polícia da ONU. O governo há anos que ignora os conselhos da ONU em levar a cabo reformas difíceis no setor de segurança ou em procurar justiça formal para crimes cometidos. A coligação geralmente estável do governo eleito em 2007 parece ser capaz de sobreviver às suas próprias fraquezas. Riscos reais para a estabilidade do país permanecem – muitos dos quais sendo o resultado do falhanço do governo em responder à impunidade pelos eventos de 2006. Estes serão mais bem resolvidos pelos líderes políticos do país do que por uma presença policial internacional contínua. Quando o mandato da UNMIT for renovado em fevereiro de 2011, a ONU deveria reconhecer a futilidade dos seus esforços de reforma do setor de segurança face ao desinteresse do governo.

Apesar de ter dado uma importante contribuição para a estabilização do período imediatamente após a crise, a polícia da ONU nunca esteve equipada para dirigir a tarefa altamente política da reforma policial. Mais de quatro anos após o começo da missão ainda não há um plano acordado sobre como apoiar a reforma da polícia de Timor-Leste. O governo embarcou em esforços próprios com capacidade limitada. Uma mudança exaustiva da estrutura de patente levada a cabo em 2010 foi um verdadeiro passo na direção da profissionalização e independência da polícia. O governo tem mostrado pouco interesse nas recomendações da ONU sobre a punição de polícias ligados à agitação de 2006 e tomou conta de um processo conjunto de verificação que irá provavelmente terminar com resultados muito limitados. Casos disciplinares mais recentes têm reforçado a imagem de uma força relutante ou incapaz de punir erros dentro das suas próprias fileiras. O processo de devolver responsabilidade distrito-a-distrito da ONU à polícia timorense tem progredido, ainda assim, de forma estável, com alguma pressão para uma devolução completa até março de 2011.

Recomendações-chave sobre as reformas dos setores de justiça e segurança feitas por instituições internacionais após a crise têm sido sistematicamente ignoradas. O trabalho da Comissão Independente de Inquérito da ONU tem sido minado uma vez que as acusações mais proeminentes que propôs têm sido arquivadas; outras têm sido descartadas por falta de provas, acabado em perdões presidenciais ou estão ainda sob investigação quatro anos após terem começado. O resultado tem sido a negação da justiça e a corrosão do estado de Direito, deixando o país sem um forte desincentivo contra a violência política. Tal é perigoso, mas mais polícia internacional não o vai resolver.

A missão da ONU tem lidado mal com o seu mandato para apoiar a mais abrangente reforma do setor de segurança e os seus esforços têm sido consistentemente rechaçados pelo governo. A revisão do setor de segurança que pretendia guiar o desenvolvimento de políticas continua por publicar quatro anos depois e, nesta altura, o seu lançamento seria irrelevante. O objetivo público da ONU de delinear os papéis da polícia e do exército tem sido rejeitado pelos líderes timorenses em favor de aproximar as duas forças para evitar rivalidades. A unidade de apoio ao setor de segurança da missão devia ser encerrada.

À medida que se começa a falar de “corrigir o tamanho” da missão de manutenção de paz com um olho virado para a retirada até dezembro de 2012, é claro que uma missão tão grande ainda não está ajustada à medida das necessidades do país. Com o seu papel de policiamento executivo a parecer vir a terminar no começo de 2011 com o final da devolução, o contingente policial deverá ser reduzido pelo menos para metade. Planos atuais para uma redução limitada vão deixar um contingente policial sobredimensionado que vai mascarar as contínuas deficiências operacionais e logísticas da polícia de Timor-Leste. O governo e o comando da polícia timorense devem interagir com os restantes polícias da ONU sobre como melhor responder a estas deficiências entre o momento atual e a retirada total a missão.

Adicionalmente, prioridades imediatas para as conversações em curso entre o governo e a missão da ONU sobre o futuro da UNMIT devem incluir:

  • Um acordo vinculativo com o governo sobre um conjunto limitado de prioridades para o treino e o apoio de funções nucleares da polícia timorense pelos polícias da ONU que restem, incluindo investigações e mecanismos disciplinares.
  • Clarificação dos termos prováveis de qualquer transferência de bens da missão da ONU.
  • Apoio para uma avaliação independente das necessidades e capacidades da polícia de Timor-Leste, conforme o pedido do governo, que possa servir de ferramenta para planear treinos internos e bilaterais futuros.
  • Discussão com a Força de Estabilidade Internacional da Austrália/Nova Zelândia (ISF) sobre a calendarização da partida da presença de segurança internacional em Timor-Leste (ISF e UNPOL);
  • Discussão de um papel político contínuo para a ONU no apoio às eleições de 2012 bem como em termos de monitorização de direitos humanos e políticos após a plena retirada da UNMIT.

A ONU vai deixar para trás muito trabalho por completar na capacitação da polícia de Timor-Leste, mas a violência de 2006 foi causada mais por um fracasso de dar resposta a questões políticas do que por fraquezas técnicas nos serviços de segurança do país. A melhor maneira de manter a estabilidade até às eleições de 2012 seria um compromisso forte para com a competição política pacífica pelos líderes de Timor-Leste.

Dili/Bruxelas, em 15 de dezembro de 2010

Overview

The policing contingent of the UN Integrated Mission in Timor-Leste (UNMIT) should be sharply reduced in size to reflect improvements in security since the 2006 crisis and to support future stability. Since 2008 the Timorese have shown themselves determined to handle internal threats without the support of the UN’s third-largest policing mission. The local force has answered to its own command rather than UN police. The government has for years ignored UN advice on undertaking difficult reforms in the security sector or pursuing formal justice for crimes committed. A mostly stable coalition government elected in 2007 seems to be able to survive its own weaknesses. Real risks to the country’s stability do remain – many the result of the government’s failure to tackle impunity for the events of 2006. These will be best addressed by the country’s political leaders rather than a continued international police presence. When UNMIT’s mandate is renewed in February 2011, the UN should acknowledge the futility of its security sector reform efforts in the face of government disinterest.

While they made an important contribution to the immediate post-crisis stabilisation, UN police were never equipped to conduct the highly political task of police reform. More than four years into the mission, there is still no agreed plan for how to support reform of Timor-Leste’s police. The government has embarked on its own efforts with limited capacity. A comprehensive overhaul of the rank structure undertaken in 2010 was a real step towards the professionalisation and independence of the police. The government has shown little interest in UN recommendations to punish police linked to turmoil in 2006 and has taken over a joint vetting process that will likely end with very limited results. More recent disciplinary cases have reinforced the image of a force unwilling or unable to punish wrongdoing from within its own ranks. The district-by-district process of handing back responsibility from the UN to the Timorese police has nevertheless progressed steadily, with some pressure for a full handover by March 2011.

Key recommendations on justice and security sector reforms made by international bodies after the crisis have been systematically ignored. The work of the UN Independent Commission of Inquiry has been undermined as the most prominent prosecutions it proposed have been shelved; others have either been thrown out for lack of evidence, have ended in presidential pardons or are still under investigation four years later. The effect has been to deny justice and corrode the rule of law, leaving the country without a strong disincentive for political violence. This is dangerous, but more international police will not solve it.

The UN mission has poorly handled its mandate to assist in broader security sector reform and its efforts have been consistently rebuffed by the government. The review of the security sector intended to guide policy development remains unpublished four years later and at this stage its release would be irrelevant. The UN’s stated goal of delineating the roles of the police and the army has been rejected by Timorese leaders in favour of bringing the two forces closer together to avoid rivalry. The security sector support unit of the mission should be closed.

As talk of “right-sizing” the peacekeeping mission begins with an eye towards its withdrawal by December 2012, it is clear that such a large mission is currently not tailored to the country’s needs. As its executive policing role looks likely to end in early 2011 with the completion of the handover, the police contingent should be reduced by at least half. Current plans for only a limited reduction will leave an oversized police contingent that will mask the continued operational and logistical deficiencies in Timor-Leste’s police. The government and the Timorese police command should engage those UN police who do remain on how best to address these deficiencies between now and the mission’s full withdrawal.

In addition, immediate priorities for discussions underway between the government and the UN mission on the future of UNMIT should include:

  • A binding agreement with the government on a limited set of priorities for training and support to core functions of the Timorese police by those UN police that remain, including investigations and disciplinary mechanisms.
  • Clarification of the likely terms of any handover of assets of the UN mission.
  • Support for an independent assessment of the needs and capacity of Timor-Leste’s police, as requested by the government, which could serve as a tool for planning future domestic and bilateral training.
  • Discussion with the Australia/New Zealand International Stability Force regarding the timing of the departure of the international security presence in Timor-Leste (ISF and UNPOL).
  • Discussion of an ongoing political role for the UN in supporting the 2012 elections as well as in political and human rights monitoring after the full withdrawal of UNMIT.

The UN will leave behind much unfinished work in building the capacity of Timor-Leste’s police, but the violence of 2006 was caused more by a failure to address political issues than it was by technical weakness in the country’s security services. The best way to maintain stability through the 2012 elections would be a strong commitment to peaceful political competition by Timor-Leste’s leaders.

Dili/Brussels, 15 December 2010

Subscribe to Crisis Group’s Email Updates

Receive the best source of conflict analysis right in your inbox.