Política para Gaza precisa de reavaliação
Política para Gaza precisa de reavaliação
The Middle East Could Still Explode
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Op-Ed / Middle East & North Africa 2 minutes

Política para Gaza precisa de reavaliação

É fácil criticar o ataque de Israel a uma flotilha de ajuda humanitária que se dirigia à Faixa de Gaza como desnecessário, mal concebido e desproporcionado. O que requer mais dificuldade– mas que deve ser feito agora– é compreender como este incidente é um indício de uma política muito mais abrangente para a Faixa de Gaza, pela qual a comunidade internacional tem responsabilidade. 
  
Durante anos, muitos países têm sido cúmplices de um plano de ação quase tão equivocado quanto o ataque desta segunda-feira: eles têm tentado isolar a Faixa de Gaza na esperança de enfraquecer o Hamas, grupo islâmico que governa esta região palestina. O rotundo fracasso desta política é igualado apenas pela notável tenacidade com que muitos países continuam a apoiá-la.
 
A Faixa de Gaza padece de altíssimo desemprego e pobreza, além de enfrentar a falta de remédios, combustível, eletricidade, alimentos e outros bens essenciais. Embora Israel tenha legítimas preocupações de segurança sobre o Hamas pelo desvio de material importado para  uso militar, nada justifica um bloqueio que equivale a pouco mais de uma punição coletiva e indiscriminada imposta sobre a população de Gaza, que provavelmente só vai radicalizar ainda mais essa ofensiva. 
  
No entanto, muitos dos países ao redor do mundo que agora condenam o ataque israelense em águas internacionais desempenham um papel ativo no tratamento deplorável que os israelenses dedicam a Gaza, o que serviu de pano de fundo para os eventos ocorridos nesta segunda-feira. A política de isolamento de Gaza, visando colocar a sua população contra o Hamas, e de apoio a uma abordagem “Cisjordânia primeiro” não era exclusivamente israelita. Analizar esta recente tragédia de maneira isolada seria como perder a mais ampla e importante das lições de política. 

 A abertura de um corredor humanitário por Israel na Faixa de Gaza seria um passo importante, mas não se trata de uma resposta suficiente para uma política cujo princípio fundamental é moralmente insensível e politicamente contraproducente.

O desafio não está no caráter humanitário de Israel. É, e sempre foi, político. Nesse sentido, algumas escolhas –sobre como lidar com Gaza, com o Hamas e com a possibilidade de um novo governo palestino– terão de ser feitas. As tentativas de enfraquecer a influência do Hamas, desde que a organização política e militar palestina venceu as eleições em 2006, claramente não têm funcionado. Perseguir este objetivo enganando a população de Gaza está errado. A política internacional relativa à região necessita passar por uma profunda reavaliação.

O objetivo deveria ser a abertura da fronteira de Gaza ao tráfego comercial e civil e o seu fechamento ao contrabando de armas ou desvio ilegal de mercadorias a través do monitoramento contínuo de um organismo independente que contasse com a participação de membros internacionais. De maneira geral, é hora de avançar em direção a uma política que envolva o Hamas ao invés de ignorá-lo. 
  
Esta semana, testemunhamos o triste resultado de uma fracassada e perigosa abordagem política: não apenas conduzida pelo governo israelense, mas por muitos outros também. Se algo de positivo pode surgir a partir desta crise, espera-se que pelo menos dê a oportunidade para corrigir o rumo de uma situação que já se prolonga por muito tempo.

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