Briefing / Asia 3 minutes

Timor-Leste: Reconciliação e regresso da Indonésia

  • Share
  • Guardar
  • Imprimir
  • Download PDF Full Report

Sumário

O estatuto não resolvido de milhares de ex-refugiados que fugiram pela fronteira na sequência de uma votação de 1999 pela independência continua a ser um desafio para a estabilidade de longo prazo de Timor-Leste. Muitos nunca foram bem integrados nas comunidades anfitriãs e estão sendo atraídos para o outro lado da fronteira em pequenas, porém crescentes, quantidades, em função da relativa estabilidade econômica e política do novo estado. Estes regressos devem ser incentivados pelos dois países como uma boa oportunidade para promover a reconciliação entre as duas comunidades divididas pela fronteira. Mas isso vai expor os custos de impunidade para a violência que marcou o referendo de 1999 e ressaltar a incapacidade de implementar as recomendações práticas de duas comissões da verdade, o CAVR, do próprio Timor-Leste, e a Comissão da Verdade e Amizade criada conjuntamente com a Indonésia. É possível que os líderes do Timor-Leste concluam que alguma forma de anistia é o melhor caminho, mas o país não pode dar-se ao luxo de retardar por muito mais tempo amplo debate sobre soluções.

Um quarto de milhão de pessoas fugiu da província de Timor-Leste após o referendo de 1999, muitos deslocados forçadamente pelas forças de segurança indonésias e milícias. Algumas dos milhares de pessoas que permaneceram no Timor Ocidental o fizeram por razões econômicas, muitas outras por causa da pressão de familiares e líderes comunitários. Este último grupo ainda está pouco integrado às comunidades anfitriãs, recusa-se a sair dos antigos campos de refugiados, e está frustrado com o fim do apoio oficial. A estabilidade política no Timor-Leste e a promessa de acesso à terra estão tornando a perspectiva de regresso mais atraente. Mas desinformação, a falta de uma base jurídica clara para sair da Indonésia, e o medo de que o acesso a bens e direitos políticos não será assegurado estão inibindo seu regresso.

Uma pequena minoria de várias centenas de milicianos e ex-líderes pró-integração politizou a questão do regresso. Eles buscam a garantia de que não serão processados por acusações de crimes contra a humanidade e querem reconhecimento como “vítima política” da retirada da Indonésia. A ex-milícia já não representa qualquer ameaça à segurança de Timor-Leste, uma vez que está desarmada e privadamente reconhece a independência como uma realidade irreversível. Mas a perspectiva de seu retorno poderia ser politicamente explosiva para o país, especialmente na ausência de processos judiciais. Ainda que a liderança política de Timor-Leste tenha enfatizado que “a porta está sempre aberta” e a polícia e líderes comunitários reconheçam a necessidade de garantir a segurança dos retornados, há sinais de que será difícil de defender os direitos fundamentais dos antigos partidários da integração.

A melhor maneira para despolitizar o regresso e diminuir o peso político que ainda persiste da ex-milícia e dos líderes pró-autonomia seria trabalhar com a Indonésia para estabelecer um processo formal de regresso. Tal medida ampararia os esforços de reconciliação no longo prazo, ainda que a implementação das recomendações práticas das duas comissões da verdade do país estejam paralisadas. Esse processo terá de ser acompanhado por uma intensificação dos esforços de reconciliação em nível comunitário e uma supervisão rigorosa dos regressos, para garantir que os envolvidos em violência de pequena escala ou aqueles cuja ausência possa ter gerado desconfiança sejam capazes de reintegração. Também exigirá uma política clara sobre como lidar com os processos judiciais, bem como as investigações incompletas.

O governo timorense não é o único responsável pelo impasse atual no que diz respeito à justiça e reconciliação. A Indonésia tem bloqueado sistematicamente os esforços para levar à justiça os líderes militares e as ex-milícias timorenses que vivem lá, recusando-se a cooperar com os tribunais timorenses. A ONU falhou em ajudar a garantir justiça, enquanto ainda dispunha de influência. É o Timor-Leste que arca com os custos. O governo deve trabalhar com o parlamento para desenvolver uma política sobre como avançar com as acusações pendentes. Um tribunal internacional não é uma opção viável e os fracos tribunais domésticos são o único lugar possível para qualquer processo judicial futuro. Qualquer nova iniciativa para levar adiante uma anistia poderia mover-se muito rapidamente; uma “anistia seletiva” é uma das opções sendo discutida pelos principais partidos políticos. A menos que se baseie em critérios legais claros, essa poderia ser a pior opção sobre a mesa, uma vez que não só fecha a possibilidade de justiça para muitos crimes, mas também politizar ainda mais o processo. Persiste o risco de que a decisão de não processar possa levar a uma retaliação violenta contra os suspeitos. Mais certo é que vai complicar ainda mais os esforços para a construção do Estado de direito e garantia de direitos para todos.

O consenso político em matéria de justiça e de reconciliação tem sido difícil, mas é urgente. O parlamento e o governo de Timor-Leste devem seguir os seguintes passos:

  • esclarecer com o governo indonésio através de um memorando de entendimento procedimentos formais para o regresso voluntário de pessoas nascidas no Timor-Leste;
  • desenvolver uma política oficial de apoio aos regressos voluntários, incluindo assistência limitada aos regressos, através de assistência alimentar e apoio à mediação de um período provisório, bem como reforçar o bem-estar e monitorar e elaborar seus direitos ao regressar;
  • debater no Parlamento o relatório da CAVR e projetos de lei sobre indenizações às vítimas e a criação de uma planejada instituição sucessora à CAVR, cujo mandato deverá incluir apoio aos processos de reconciliação da comunidade;
  • renovar esforços para implementar com a Indonésia as recomendações da Comissão de Verdade e Amizade, e
  • comprometer-se publicamente a levar a cabo os processos judiciais existentes nos tribunais nacionais.

Díli/Bruxelas, 18 de abril de 2011

I. Overview

The unresolved status of thousands of former refugees who fled across the border following a 1999 vote for independence remains a challenge to Timor-Leste’s long-term stability. Many were never well integrated into host communities and are being drawn back across the border in small but increasing numbers by relative economic and political stability in the new state. These returns should be encouraged by both countries as a good opportunity to promote reconciliation between the two communities divided by the border. Doing so will expose the costs of impunity for the violence that surrounded the 1999 referendum and highlight the failure to implement practical recommendations from its two truth commissions, the CAVR and the Commission on Truth and Friendship. Timor-Leste’s leadership may yet decide that some form of amnesty is the best way forward, but the country cannot afford to further delay broad discussion on solutions.

A quarter of a million people fled the province of East Timor after the 1999 referendum, many forcibly displaced by Indonesian security forces and militia. Some of the thousands remaining in West Timor are there for economic reasons; many others because of pressure from family members and community leaders. This latter group are still poorly integrated into their host communities, refuse to leave old refugee camps, and are frustrated by the end of official assistance. Political stability in Timor-Leste and the promise of access to land are making the prospect of return more attractive. But misinformation, an unclear legal basis for leaving Indonesia, and fear that their access to property and basic political rights will not be upheld are holding them back.

A small minority of several hundred former militia and former pro-integration leaders have politicised the question of return. They seek assurances that they will not be prosecuted for standing charges of crimes against humanity and want recognition as “political victims” of Indonesia’s withdrawal. The former militia no longer pose any security threat to Timor-Leste as they are unarmed and privately acknowledge independence as an irreversible truth. But the prospect of their return could be politically explosive for the country, particularly in the absence of prosecutions. Even though the Timorese political leadership has consistently underscored that the “door is always open” and police and community leaders acknowledge the need to ensure the security of returnees, there are signs that it will be difficult to uphold the basic rights of former integration supporters.

Working with Indonesia to set up a formal process would be the best way to de-politicise the nature of return and lessen what political leverage the former militia and pro-autonomy leaders still hold. It would support longer-term reconciliation efforts even as implementation of the practical recommendations from Timor-Leste’s two truth commissions have stalled. It will need to be accompanied by renewed efforts at community-level reconciliation and vigorous monitoring of returns, to ensure those involved in low-level violence or those whose absence may have engendered suspicion are able to reintegrate. It will also require a clear policy on how to handle prosecutions as well as incomplete investigations.

The Timorese government does not bear sole responsibility for the current impasse over justice and reconciliation. Indonesia has consistently blocked efforts to bring to justice its military figures and ex-Timorese militia living there by refusing to cooperate with Timorese courts. The UN failed to help ensure justice while it still had influence. It is Timor-Leste that bears the costs. With parliament, the government must work to develop policy on how to move forward with the standing indictments. An international tribunal remains a non-starter and weak domestic courts are the only possible venue for any future prosecutions. Any renewed efforts to push through an amnesty could move quite quickly; one option being discussed by the leading political parties is a “selective amnesty”. If not based on clear legal criteria, this could prove the worst option on the table as it would not only close off the possibility of justice for many crimes but also further politicise the process. There remains a risk that a decision not to prosecute could lead to violent retribution against suspects. More certain is that it will further complicate efforts to build the rule of law and guarantee rights for all.

Political consensus on justice and reconciliation has been elusive but is urgently needed. The parliament and government of Timor-Leste should take the following steps:

  • clarify with the Indonesian government through a memorandum of understanding the formal procedures for voluntary returns by those born in East Timor;
     
  • develop an official policy supporting voluntary returns, including limited assistance to returnees, through food assistance and mediation support during a provisional period as well as strengthened welfare monitoring and elaborating their rights upon return;
     
  • debate in parliament the CAVR report and draft laws on reparations for victims and the creation of a planned successor institution to the CAVR, whose mandate should include supporting community reconciliation processes;
     
  • renew efforts to implement with Indonesia the recommendations of the Commission for Truth and Friendship; and
     
  • publicly commit to the prosecution of existing indictments in the domestic courts.

Dili/Brussels, 18 April 2011

Subscribe to Crisis Group’s Email Updates

Receive the best source of conflict analysis right in your inbox.